7 de fevereiro de 2011

Poesias

Mente-me a verdade.
Permite-me a inanição,
fome de palavras.
Paraliso ante o silêncio
dos que deveriam
apontar-me o caminho.
Sinto-me entorpecer,
lentamente perder o vinho.
Mente-me a verdade
e nenhuma gota restou
no fundo do cálice.
(Lílian Maial)


Perfeito

Perfeitas são as noites de lua cheia,
praias desertas.
Perfeitas são as tardes de sábado,
parques de diversão.
Perfeitas são as noites de amor,
em horas incertas.
Perfeitos são os sonhos contigo,
doce ilusão.
(Marco Romano)


Concerto para corpo e alma

Compreendi, então, que a vida não é uma sonata que,
para realizar a sua beleza,
tem de ser tocada até o fim.
Dei-me conta, ao contrário,
de que a vida é um álbum de mini-sonatas.
Cada momento de beleza vivido e amado,
por efêmero que seja, é uma experiência completa
que está destinada à eternidade.
Um único momento de beleza e amor
justifica a vida inteira.
(Rubem Alves)

Mudança

Homem, homem de olhos de aço,
Olhos de glaciar ao frio
Do vento Norte de meu Espaço
Vazio...

Olho-te! Não te sinto pulsar,
És vulcão já extinto.
Toco-te! Estás em outro lugar,
Sinto...

És Nada e eu ainda sou Tanto...
Sou ferida que só tem cura
Na Morte, como tu sem encanto,
Dura...

Onde foi teu carinho?
Onde tua ânsia de amor?
Ficou pelo caminho!
Desamor... 
(Goreti Dias)

Conveniência

Convém dizer que os sonhos não morrem,
mas que são povoados de figuras sem paisagem:
como trouxesse numa fita um recorte, morro somente
por aquilo que quero morrer, pelo desejo de perda
e desejo de posse tanta, por aqueles que morrem.
Existe na escuridão da linha em branco passagem,
feita de traço, formando no poema acidente,
construindo a razão e a função de todos os sucessos
que passam por nós e nos tocam com azar ou sorte
os sentidos e a alma, do fio do cabelo à boca do estômago.
E o que fazemos, e o que deixamos, é um sonho para ser
aperfeiçoado em figuras em série, de paisagem branca
recorte de traço, morte de tudo, como num ciclo
semente de vida, mero acidente, seqüência de ganho
mais sonho de perda, passagem sem linha e dizer de posse
pois convém dizer que os sonhos não morrem jamais.
(Isaias Zuza Jr)

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